Muito antes de embelezar os aquários com suas cores e formas exóticas, o peixe-beta já habitava em águas calmas e pobres em oxigênio do Sudeste Asiático. Ainda hoje ele pode ser encontrado nos alagados em que se planta o arroz na Tailândia, no Camboja e no Vietnã.
Os machos dessa espécie são territorialistas. Isso quer dizer que eles não gostam de visitas de seus iguais - apenas as fêmeas são bem-vindas.
Se um peixe-beta entra no território de outro, há brigas sérias e um deles pode até morrer devido aos ferimentos. Por isso, os asiáticos têm o costume de colocar dois machos em um mesmo recipiente, para vê-los brigar - daí surgiu o nome popular de peixe-de-briga.
Eles brigam mesmo: o especialista William Sugai, biólogo e aquarista profissional há 27 anos, alerta que não se deve colocar dois ou mais machos de peixe-beta num mesmo aquário.
Contudo, o nome "beta" também remete ao comportamento agressivo entre machos dessa espécie de peixe. Antigamente, uma tribo de guerreiros, chamados Ikan Bettah, habitava as regiões do Sião, no território que hoje é a Tailândia. Como essa tribo era agressiva e territorialista, o peixe recebeu um dos nomes desse grupo de guerreiros.
Para sobreviver em um ambiente pobre em oxigênio, o peixe-beta desenvolveu, após milhares de anos de evolução, um órgão de respiração complementar, chamado labirinto.
O aparelho respiratório fica na parte superior da cabeça e atrás dos opérculos - estruturas ósseas que revestem a abertura branquial desses peixes. As brânquias retiram uma parte do oxigênio da água, mas essa quantidade não é suficiente para manter a vida do beta. Por isso, ele vai, periodicamente, à superfície para engolir ar que vai até o labirinto, onde ocorrem as trocas gasosas. Se o peixe-beta não puder subir para engolir o ar, para respirar, ele morre afogado.
Algumas pessoas pensam que equipar o aquário de seu peixe-beta com bombinhas de ar ou filtro, garante quantidades suficientes de oxigênio na água e o animal não sentirá necessidade de subir à superfície. Ledo engano.
Tais equipamentos só irão provocar estresse no animal. Lembre-se de que esse é um peixe adaptado para águas sem turbulência e pobres em oxigênio. Por mais oxigênio que haja no ambiente, as brânquias do beta não são capazes de lhe fornecer a quantidade necessária desse gás vital.
Os peixes-beta são ovíparos, isto é, colocam ovos. Sua reprodução é interessante. Quando um macho se interessa por uma fêmea, ele constrói um ninho feito de pequenas bolhas de ar.
Em seguida, vai até a fêmea e a envolve formando um "U" com o corpo. O "abraço" ajuda a fêmea a liberar os óvulos que são fecundados pelos gametas do macho no mesmo instante.
Os óvulos fecundados depositam-se, pouco a pouco, no fundo. O macho, em seguida, pega os ovos com a boca, gentilmente.
Um de cada vez, eles são depositados dentro de uma bolha de ar.
O papai-beta tem o maior cuidado com o seu ninho. Se algum ovo se desprender dali, ele se encarrega de recolocá-lo no lugar.
O macho cuida de seus alevinos, nome dado aos filhotes de peixe, até que eles sejam capazes de se alimentar sozinhos. Durante todo o tempo em que cuida dos filhotes, ele não se alimenta. Por isso, quando os peixinhos ficam independentes, podem ser devorados pelo próprio pai, faminto.
Para reproduzir peixes-beta em aquários, deve-se pedir orientações a especialistas, pois são animais de comportamentos complexos.
Os peixes-beta são carnívoros e larvófagos: alimentam-se de larvas. Acontece que o Aedes aegypti, mosquito vetor do vírus da dengue, vive uma parte de sua vida como larva.
Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará, Universidade Estadual do Ceará, e da Fundação Nacional de Saúde de Fortaleza, realizaram um estudo, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, sobre o peixe-beta como forma de controle biológico contra larvas de Aedes aegypti.
Os pesquisadores colocaram larvas em tanques com um peixe-beta em cada um, com água parada e limpa, e esperaram para ver o que iria acontecer. Passado um tempo, as larvas praticamente desapareceram, devoradas pelos peixes.
Os peixes-beta comem qualquer coisa, mas isso não significa que tudo faz bem a ele. Se você tiver um ou mais desses peixes, pode optar por oferecer-lhes alimentos vivos, como artêmia, salina adulta, ou sanguessugas.
Mas ele pode, perfeitamente, se satisfazer com alimentos secos industrializados próprios para sua espécie. Seja seco, ou vivo, o alimento deve ser consumido pelo beta em poucos minutos. Jamais coloque comida demais - isso suja a água e prejudica a saúde do peixe.